Atualmente a família Tapiridae possui apenas um único gênero Tapirus, que é composto por cinco espécies T. terrestris, T. pinchaque, T. bairdii, T. indicus e T. kabomani recentemente descoberta. Das cinco espécies sobreviventes de Tapirus, duas estão presentes no Brasil, T. kaboni na Amazônia e T. terrestris com uma larga distribuição no território nacional.
Os indivíduos do gênero Tapirus são conhecidos como dispersores de sementes e por isso são considerados importantes na preservação e reconstrução de hábitats (Brooks et al., 1997).
O fóssil mais antigo do gênero Tapirus se encontra na Europa e é datado para o período do Oligoceno. O gênero aparece pela primeira vez na América do Norte no Mioceno e na América no Sul no Plio-Pleistoceno com a formação do Istmo do Panamá.
As espécies T. terrestris e T. pinchaque possuem sequência de dna mitocondrial do gene citocromo c oxidase subunidade II e do gene 12S rRNA muito semelhantes o que sugere que as duas espécies descendem de uma única linhagem de Tapirus que migrou para o sul durante o Grande Intercâmbio Americano (Norman e Ashley, 2000)
Das cinco espécies de Tapirus existentes atualmente, T. terrestris é a que possui a maior distribuição geográfica, ela ocupa ambientes de floresta e cerrado que vão dos Andes no Peru até o norte da Argentina. A espécie T. terrestris pode ocupar ambientes de cerrado, semi-árido e florestas deciduais, mas preferencialmente próximo a corpos d’água e de ambientes flúvio lacustres (Holanda, 2007).
As populações para qual já se conhece a filogeografia demonstram que as populações de T. terrestris foram fragmentadas, isoladas e após esses eventos expandiram-se. Hoje são reconhecidos seis haplogrupos para a espécie (Ruiz-García et al., 2015). A espécie tem uma alta variabilidade genética conforme trabalhos com genes mitocondriais (Ruiz-García et al., 2015 ) e marcadores nucleares de microssatélites (Pinho, 2011).
Alguns autores como Thoisy et al., 2010 e Ruiz-García et al., 2015 já estudaram a filogeografia das espécies de Tapirus na América do Sul incluindo a T. terrestris. Porém todos estudos filogeográficos feitos com as populações brasileiras desta espécie até o momento, utilizaram somente populações do norte do país, deixando uma lacuna na história filogeográfica das populações brasileiras mais ao sul. Estas populações são importantes para contar a história da espécie pois são as mais distantes do provável local de surgimento da espécie, o noroeste da Amazônia, com o Rio Amazonas sendo parte de uma barreira ao fluxo gênico e para a dispersão da espécie (Thoisy et al., 2010; Ruiz-García et al., 2015).
A anta, ou tapir, do tupi “boi da floresta” possui uma história de vida longa. Seus antepassados cruzaram continentes e se dispersaram pelo mundo todo. Hoje, restam poucos sobreviventes, T. terrestris é um deles, é o maior mamífero do Brasil e um dos poucos grandes herbívoros restantes após eventos que extinguiram a maior parte da megafauna. A jardineira das florestas possui uma simpatia única, não consta ainda como ameaçada de extinção. Mas esforços não devem ser medidos na sua preservação pois seu papel ecológico é insubstituível e responsável por equilibrar florestas e cerrados.
Bruna E. Szynwelski, graduanda em Ciências Biológicas
Referências:
BROOKS, D. M.; BODMER, R.E. & MATOLA, S. (ed.) (1997). Tapirus-Status Survey and Conservation Action Plan, IUCN, Gland, Switzerland and Cambridge, vii+164pp.
HOLANDA, E.C. (2007). Os Tapiridae (Mammalia, Perissodactyla) do Pleistoceno Superior do Estado de Rondônia, Brasil. Tese de Mestrado. Programa de Pós Graduação em Geociências, Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
NORMAN J, ASHLEY M. (2000). Phylogenentics of peryssodactyla and tests of the molecular clock. J Mol Evol 50:11–21.
PINHO G. M. (2011). Comportamento social de antas (Tapirus terrestris): relações de parentesco em uma paisagem fragmentada. Tese de Mestrado Programa de Pós-graduação em Ecologia, INPA.
RUIZ-GARCÍA, M. ET AL. (2015). Phylogeography and spatial structure of the lowland tapir (Tapirus terrestris, Perissodactyla: Tapiridae) in South America. Mitochondrial DNA, Early Online: 1–9.
THOISY B, GONCALVES DA SILVA A, RUIZ-GARCÍA M, TAPIA A, RAMIREZ O, ARANA M, QUSE V, ET AL. (2010). Population history, phylogeography, and conservation genetics of the last Neotropical mega-herbivore, the Lowland tapir (Tapirus terrestris). BMC Evol Biol 10:278–95.
Fonte: PROANTA